Vamos pensar juntos : os animais que se posicionam para OUVIR, como o GATO e o CAVALO, devem ter uma conduta sonora oposta aos que se posicionam para SEREM OUVIDOS...
Experimente miar, leitor! Repare que o som felino, de tão delicado e cuidadoso, mais parece um pedido de desculpas por estar expondo suas intenções de maneira tão rústica - através do som! Este fato sugere que a exteriorização sonora contraria o seu instinto, afinal, gatos são animais que se posicionam para OUVIR e não para SEREM OUVIDOS! Não será por este motivo que o miado nos remete a uma sensação de tristeza, aspecto aliás, que igualmente ocorre com EQUINOS ?
Quanta melancolia num relincho!
Observe, em oposição, a felicidade do seu cão ao latir. E o mesmo se dá com a garganta do boi ao mugir ! São sons que não têm fim ! Enquanto os de felinos e equinos são descontínuos, começam e terminam,... os sons canino e bovino são contínuos, tendem a prosseguir e por isso os seus aparelhos fonatórios dão a impressão a quem os ouve, de estarem fazendo o que gostam !
Atente para o mugido da vaca quando apartada do seu filhote. Ela sonoriza no limite de suas possibilidades vocais. Enquanto houver ar nos pulmões e a garganta aguentar, ela muge! E com o seu poodle se dá o mesmo. Ele é capaz de latir meia hora sem parar para a gata da vizinha! Mas por que estes dois animais sonorizam tão intensamente ? A resposta é óbvia : porque não ouvem a si enquanto mugem e latem! Se ouvissem, agiriam de outra forma!
Felinos e equinos, por sua vez, sonorizam ouvindo, inclusive a eles próprios, o que parece inevitável em se tratando de animais que VÊEM e OUVEM! Quando o som que emitem aumenta em demasia, interrompem - no, dão uma pausa e em seguida voltam a sonorizar,... de início levemente, até que o som aumenta outra vez e eles o paralisam novamente, e assim vai. Este controle que a audição de felinos e equinos exerce sobre a fonação possibilita a eles modularem a voz...
Quanta melodia nos relinchos e miados!
Já nos mugidos e latidos, o som não sendo controlado pela audição,... tende para o urro, para o berro, para o grito.
O `` desejo de VER / OUVIR ´´ explica não só aspectos sensoriais específicos de um EQUINO, como o mencionado sobre a fonação, como também aspectos amplos da sua linguagem corporal, como é o caso do seu GESTO - PARADIGMA.
Para corroborar essa afirmação, vamos recorrer mais uma vez aos felinos, imaginando - conforme o MÉTODO comparativo que adotamos - que CAVALOS são gatos grandes...
O leitor chega do trabalho estressado, refastela - se na poltrona, tira os sapatos e lá vem o gato! O bigode toca de leve na sua perna e como quem não quer nada, SE AFASTA. Em seguida dá aquela famosa voltinha e daí sim, se aproxima. Êta bicho complicado! É um aproximar - se diferente, ao estilo gato : ele não vem direto, se aproxima se afastando, isto é, aparentando ao interlocutor `ser menor do que é´,... em resumo, DIMINUINDO - SE DE TAMANHO!
É intuitivo que cada qual a seu modo, todos os gatos, dos persas aos siameses, dos domésticos aos selvagens, tendem, quando em comunicação, a SE DIMINUIREM DE TAMANHO diante dos seus interlocutores. Vamos considerar o DIMINUIR DE TAMANHO, o gesto - paradigma FELINO. E de tão importante, ele merece uma explicação...
Admitindo - se que a linguagem corporal de um animal é delimitada nos seus aspectos básicos, pelas possibilidades do seu equipamento sensorial, o DIMINUIR DE TAMANHO dos felinos deve ter sua explicação no fato sensorial mais relevante a essa população, qual seja,... o desejo de VER / OUVIR. O bom senso sugere que é para satisfazê - lo que os gatos se DIMINUEM DE TAMANHO.
Mas quê motivos levam um animal que se posiciona para VER e OUVIR a se diminuir de tamanho diante de seus interlocutores ?
Ora, ao SE DIMINUIR DE TAMANHO, o gato diminui o efeito da sua presença e assim tem condições de VER e OUVIR o outro do jeito que o outro é, do jeito que o outro está - A VERDADE - e não o outro alterado pelo efeito da sua proximidade física.
É natural que o animal que se posiciona para VER / OUVIR deseja VER e OUVIR A VERDADE! Questão de sobrevivência...
OS BUSCADORES DA VERDADE
Atente para o CAVALO...
Igualmente ao GATO, a sua diversidade de atributos corporais, como por exemplo, a boca fechada, a língua escondida, a respiração silenciosa, a fonação controlada, os gestos cuidadosos, etc,... visa propiciar a ele o SE DIMINUIR DE TAMANHO em imagem e som ( o aparentar ao outro ` ser menor do que é ´ ), para que, por sua vez, possa satisfazer o desejo mais elementar do seu instinto : VER e OUVIR os elementos do ambiente do modo mais verdadeiro possível!
boca língua respiração fonação gestos...
fechada escondida silenciosa controlada cuidadosos...
Posicionando - se para VER / OUVIR, o que implica em depender dos órgãos da VISÃO e AUDIÇÃO para sobreviver,... o CAVALO é um animal audiovisualmente exigente. Realista, ele se interessa pela VERDADE, pela mensagem do jeito que ela é, nua e crua, precisa. As instruções devem ser mínimas, sem ruídos. Nada de estendê - las além do necessário. Até os agrados precisam ser discretos,... para não atrapalharem a beleza e a harmonia do gesto.
É tudo na medida certa.
Observe a égua antes de saltar. Com que elegância ela SE DIMINUI DE TAMANHO! Isto é, SE CONTRAI. A graça e beleza do andar equino se assentam na contração,... no prazer em tirar as patas do chão. E o mesmo ocorre com felinos : repare no receio dos gatos ao colocarem suas patas no solo, e em contraponto, na rapidez com que as tiram!
Atente, por outro lado, para o boi no rodeio : com que ímpeto o seu corpo se expande, alonga - se,... AUMENTA - SE DE TAMANHO! O andar dos bovinos se apóia na `` des - contração ´´. Ao contrário dos equinos, eles têm mais prazer em colocar do que em tirar as patas do chão, ou seja, em esticar o corpo do que em contraí - lo!
A percepção da oposição acima revela : enquanto a satisfação de um EQUINO está no movimento ascendente dos membros, que os dobra, os diferencia, os ` parte ´,... a do BOVINO está no descendente, que os estica, os alonga, os `totaliza ´!
Antes de encerrarmos esta etapa introdutória, e com a finalidade de fazer o internauta leitor aumentar a confiança no esquema desenvolvido, vamos ampliá - lo, incluindo mais duas populações animais e investigando outra dimensão sensorial.
Vale recordar : pelo nosso enfoque, o mundo animal das quatro populações investigadas se divide em dois grupos : de um lado, os que preferem se posicionar para VER / OUVIR ( do que para SEREM VISTOS / OUVIDOS ) - entre estes o CAVALO - e do outro, os que preferem SER VISTOS / OUVIDOS ( do que VER / OUVIR ). Enquanto os primeiros se DIMINUEM, os segundos SE AUMENTAM DE TAMANHO em imagem e som...
Observe ao cair da tarde a multidão de andorinhas arremetendo na praça. Com que velocidade elas se deslocam! Como fazem isso sem se acidentar ? Haja destreza visual! E auditiva : no meio da algazarra sonora, cada filhote é o filhote da sua mãe, único, inconfundível. E como se escondem! São centenas em cada árvore e depois que se acalmam, é difícil enxergá - las.
A bem da verdade, as aves SE DIMINUEM DE TAMANHO diante dos seus interlocutores, como nenhuma outra população animal. Afora os atributos comuns com felinos e equinos, mamíferos que igualmente se DIMINUEM DE TAMANHO, como por exemplo, a capacidade de contrair o corpo e aquietá - lo quando preciso, elas têm uma particularidade que as tornam únicas : voam. E por realizarem o quesito ` DIMINUIR DE TAMANHO para melhor VER / OUVIR ´ com perfeição maior que os mamíferos sensorialmente semelhantes, vamos considerá - las paradigmas do VO.
Imagine - se agora em situação oposta : caminhando pela mata, curtindo suas férias ecológicas,... quando de repente, em meio a folhagens junto a uma aguada, você se depara frente - a - frente com um JACARÉ!
Quanta presença! Ele é apenas um, mas você reage como se fosse uma dezena! Certamente que entre todos animais, o RÉPTIL é o que melhor SE FAZ VISTO E OUVIDO! Mesmo em repouso, completamente estático, ele transmite uma presença corporal imensa, AUMENTA - SE DE TAMANHO como nenhum mamífero. E não só em imagem, como também em som : o ataque de um jacaré na água é um acontecimento ruidoso ao extremo!
Por este e outros aspectos, consideraremos os RÉPTEIS, paradigmas do SVO.
A construção do CAVALO ARQUETÍPICO nos conduziu a um peculiar modo de classificar os animais. Ele sugere a existência, no mundo dos mamíferos, de uma arquitetura formada por duas `` árvores sensoriais ´´ : de um lado, os animais da família da AVE, que interagem se posicionando preferencialmente para VER e OUVIR seus interlocutores, e do outro, os da família do RÉPTIL, que interagem se posicionando preferencialmente para SEREM VISTOS e OUVIDOS por eles.
Esta classificação permite a compreensão direta - digamos que ela dispensa o intelecto! - de ` diferenças sensoriais ´ significativas entre os animais das duas famílias, como o fato característico de que aves, felinos e EQUINOS têm olhos `para ver´, enquanto répteis, caninos e bovinos, `para serem vistos ´,... ou ainda, que os primeiros têm a conduta sonora controlada pela audição, enquanto os segundos, não. E a abrangência dessa classificação não se restringe à diferenças associadas aos sentidos da VISÃO, AUDIÇÃO e FONAÇÃO, mas a outros, como o TATO.
- CLASSIFICAÇÃO SENSORIAL -
No topo da coluna da esquerda está a AVE, o corpo coberto por penas, ou seja, não tocável diretamente, e no da direita o RÉPTIL, animal que não tendo o corpo coberto por penas, tem a pele desprotegida, diretamente tocável. Tente pegar uma galinha! O receio dela é você tocar diretamente em sua pele. Observe, em oposição, o encantador e a serpente. Quê sublime encontro de dermes e epidermes! Diferença igual ocorre entre os mamíferos correspondentes : enquanto felinos e EQUINOS - como se tivessem penas - atuam protegendo a pele, preferem tocar e serem tocados de modo suave, `pêlo com pêlo´,... caninos e bovinos apreciam o toque denso, ` pele com pele ´.
O corpo de um CAVALO não se assemelha ao de um gato, muito menos ao de uma AVE,... no entanto, os três são movidos pelo mesmo ímpeto, portadores de uma força que os faz saírem do chão! Cada qual a seu modo, isto é, conforme as possibilidades do seu físico, eles se afastam do solo,... da matéria, do denso... o que tem a ver com o sentido do TATO, o da percepção através da pele, das unhas, do casco.
Como o CAVALO gosta de ser tocado ? Ora, como uma AVE, como um GATO!
Na atual fase de primazia da comunicação virtual, em que os seres eletrônicos invadem não só o meio urbano quanto o rural, a interação animal - homem tende a caminhar em sentido contrário ao da convivência sensorial,... de onde aprendizados vivenciais - como o do manejo de CAVALOS - carecem de abordagens que compensem essa deficiência.
Quê maneira melhor há de mostrar a um iniciante na arte da equitação que os corpos EQUINOS são sensíveis ao toque,... do que o comparando com o toque que satisfaz bovinos ?
O contraste acima não só facilita a percepção da sensorialidade de um EQUINO, como nos auxilia a rever velhas e batidas explicações sobre o seu comportamento...
É lugar comum nos textos sobre cavalos, apresentá-los como animais de FUGA, devido ao fato de terem sido predados. Sem dúvida que essa justificativa tem seu valor, afinal, se apagarmos da memória dos equinos o fator `predação´, eles seriam menos fugidíos,... no entanto, este fundamento é relativo, pois os atuais bovinos e seus aparentados ( búfalos, bisões,... ) foram no passado igualmente perseguidos e caçados, e nem por isso seus descendentes desenvolveram o ímpeto de se afastar - de modo exagerado - ao primeiro contato!
Do ponto de vista sensorial, o ímpeto de FUGA está associado à LIBIDO VO, que faz o seu portador evitar ser tocado no início de uma relação. É um comportamento comum a AVES e gatos - igualmente animais de FUGA - e está enraizado, entre outros sentidos, no TATO. O cavalo é um ` animal de fuga ´ não só porque foi predado ( justificativa psicológica ), mas porque prefere VER / OUVIR a SER VISTO / OUVIDO, o que o impulsiona num primeiro momento a SE AFASTAR do elemento com o qual interage para vê-lo e ouvi-lo em sua verdade! ( justificativa sensorial / biológica )*.
animais de fuga
* etológica
Aproxime - se de um CAVALO ( e pode até ser o seu ) e verifique : o corpo equino tende a reagir ao contato, e mesmo à possibilidade do contato, com um imperceptível arrepio, aquela sutil tremidinha de pele. É o limiar do instinto de fuga agindo...
Uma coisa é a fisiologia de determinado órgão sensorial, outra é o modo como o órgão desempenha a sua função no âmbito do dualismo elementar `` a parte / o todo ´´. É este último aspecto, que designaremos de `` sensorial modal ´´, que estamos investigando.
É irrelevante na convivência com CAVALOS se saber sobre a fisiologia, por exemplo, da percepção tátil equina, mas é importante, para não dizer essencial, o conhecimento sobre o modo como eles fazem uso do TATO, ou seja, o modo como gostam de tocar e serem tocados! E a mesma necessidade se estende aos demais modos sensoriais.
OS ÓRGÃOS
OS MODOS
Enquanto o CAVALO APARENTE é construído de membros e órgãos,... o ARQUETÍPICO, de MODOS.
O CAVALO APARENTE ( O CORPORAL)
O CAVALO ARQUETÍPICO (O MODAL)
Esclarecido o contexto em que se dará a construção do cavalo arquetípico ( o sensorial modal ), apresentaremos a seguir os `` modos sensoriais ´´ dos animais focalizados, começando pelos modos de olhar de gatos e cães, e consequentemente, de EQUINOS e bovinos.
